A orientação educacional, assim como a supervisão escolar, tem recebido enfoques variados.
Tradicionalmente, o orientador educacional tem sido visto e tem - se visto como um profissional, cujo papel principal é atuar com os educandos. Assim é que a orientação é definida como um método pelo qual o orientador educacional ajuda o aluno, na escola a tomar consciência de seus valores e dificuldades, concretizando principalmente através do estudo, sua realização em todas as suas estruturas e em todos os planos de vida . Em vista disso, o mesmo faz levantamentos de dados (sondagem de aptidões), realiza sessões de orientação e de aconselhamento e desempenha uma série de funções de maior ou menor importância, relacionadas com a concepção do atendimento ao educando.
Dentre todas essas atuações o aconselhamento tem sido considerado como a principal e mais importante. No entanto, a fundamentação, habilidade e eficácia de tal papel na escola têm sido largamente questionadas recentemente, face a dificuldade de o orientador educacional demonstrar, objetivamente, que, dedicando grande parte do seu tempo e contribui da melhor maneira possível para o atendimento da problemática do educando. Vejamos:
Os modelos e técnicas de aconselhamento utilizado em orientação educacional desenvolveram-se originalmente no âmbito da psicoterapia, e implicitamente assumem a noção de que o indivíduo e não o ambiente em que faz parte é que deve modificar-se, pois é ele, indivíduo, e não o ambiente que está perturbado, doente ou com problemas. De fato, observa-se facilmente a transposição de tal concepção em posições assumidas pelo orientador educacional na escola, posições estas que correspondem a expectativas de pessoas que participam do processo educativo. Por exemplo, o aconselhamento é mais comumente utilizado em casos relacionados com indisciplina (Lück, 1979) e a prática freqüente é do aluno ser encaminhado à orientação educacional com a expectativa implícita de que o mesmo seja modificado, corrigido. A suposição implícita é de que o aluno está a causa do problema. Tal procedimento não reconhece que, muitas vezes, comportamento inadequado do educando são causados, dentre outros, por disfunções ambientais como, por exemplo, currículos e programas inadequados às suas necessidades e condições individuais, regulamentos inflexíveis, ou insensibilidade de professores e adultos em geral à individualidade do educando.
Além da parcialidade com que vê a situação do aluno, tal posição assumida incorre em erro por chocar-se com os princípios do próprio aconselhamento quanto a aceitação e compreensão do educando.
Os modelos e técnicas de aconselhamento desenvolveram-se principalmente mediante sua aplicação com clientes adultos e voluntários. A viabilidade de sua aplicação com outro tipo de população na escola, a criança e o adolescente geralmente não voluntários, necessita ser evidenciada empiricamente.
No plano da argumentação lógica, questionam-se:
Que o relacionamento naturalmente desigual entre orientador educacional e aluno (adulto-criança, adolescente) deixe de influir no educando como tal, mormente em nossa cultura em que o adulto é naturalmente visto como autoridade pela criança, independentemente da posição que ocupe em relação a ela (Sheibe e Spaccaquerque,1976);
O aconselhamento individual e mesmo em grupo, como forma principal de atuação em orientação educacional, obriga a uma proporção relativamente pequena de alunos por orientador educacional. Idealmente esta proporção é de 450 alunos por orientador educacional nas escolas de ensino de 1º grau. Tal proporção, já considerada impraticável em países desenvolvidos como norma sistêmica, mais ainda é o entre nós, ainda mais considerando-se a crescente necessidade de expansão das redes públicas do ensino.
Numa escola com números elevados de alunos em proporção a orientadores educacionais, em que se adotem as funções de aconselhamento como forma principal de atuação , ocorre certamente o atendimento de uns poucos alunos, ficando a maioria deles sem receber os benefícios da orientação educacional. Mais ainda, pressionados pelo tempo limitado, dada a sobrecarga de alunos, tentará o orientador educacional a abreviar a duração e o número das sessões de aconselhamento com cada aluno e, inadvertidamente, o orientador poderá forçar um ajustamento prematuro e artificial.
O atendimento individual ao educando, que vem caracterizando a orientação educacional, fundamenta-se no pressuposto de que os educando tem necessidades especiais e que os professores não estão preparados ou não tem condições para atendê-las. Segundo esse enfoque o orientador educacional presta serviços na medida em que emergem as necessidades (Lück,1978).
Tal concepção de prestação de serviços e atendimento direto ao educando, de acordo com a emergência de necessidades psicoemocionais, parece Ter gerado uma mudança na abrangência e sentido do papel do professor em relação ao aluno. Observa-se, por exemplo, que, quando o professor percebe que algum aluno seu tem dificuldades especiais, encaminha-o para o orientador educacional a quem transfere a responsabilidade de resolvê-las. Ora, o professor é figura central na formação do educando. É ele quem forma o aluno o gosto ou desgosto da escola; a motivação ou não pelos estudos; o entendimento da significância ou insignificância das áreas e objetivos de estudo; a percepção de sua capacidade de aprender, de seu valor como pessoa, etc. Da qualidade do relacionamento interpessoal professor-aluno, de responsabilidade do primeiro, depende, dentre outras coisas, o ajustamento emocional do aluno em sala de aula e na escola. Portanto, não se concebe a eficácia de uma ação para sanas dificuldades dos alunos em sala de aula sem a participação do professor.
Em vista dos problemas expostos, preconiza-se que o orientador educacional assuma funções de assistência ao professor, aos pais, às pessoas da escola com as quais os educandos mantêm contatos significativos, no sentido de estes se tornem mais preparados para entender e atender às necessidades dos educandos, tanto com relação aos aspectos cognitivos e psicomotores, como aos afetivos.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O centro de atenção máxima da escola deve ser o aluno. A escola existe em função dele, e, portanto, para ele. A sua organização em quaisquer dos seus aspectos, deve ter em vista a consideração do fim precípuo a que a escola se destina: a criação de condições e de situações favoráveis ao bem estar emocional do educando e o seu desenvolvimento em todos os sentidos: cognitivo, psicomotor e afetivo, a fim de que o mesmo adquira habilidades, conhecimentos e atitudes que lhe permitam fazer face às necessidades vitais e existenciais.
Na promoção destas condições e situações um dos fatores mais decisivos é o Orientador. Suas atitudes, práticas, desempenhos promovem um impacto significativo no educando, pois elas influem na imagem que os educandos formam da escola, no processo educativo em geral, na imagem de si mesmos, e , é claro, em aspectos particulares de sua aprendizagem. Portanto, toda atenção deve ser dada ao desenvolvimento de atitudes, habilidades e conhecimento do Orientador para que possa promover um processo educativo relevante.
Fonte:
http://www.webartigos.comReferências Bibliográficas
GRISPUN, Mirian P. S. Z. Orientação Educacional: Conflitos de paradigmas e alternativas para a escola. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2006.
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